Humberto de Campos Veras nasce aos 25 de outubro de 1886 numa pequena cidade do Maranhão chamada Miritiba, hoje Humberto de Campos.
É incrível que hoje poucos brasileiros sabe quem foi esse notável escritor que teve uma infância triste e pobre numa das regiões mais carentes do País. Nomes como Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis, Aluísio Azevedo, entre outros, são rapidamente reconhecidos pelas pessoas, mas o nome desse grande Brasileiro, pequeno na estatura física, mas de proporções enormes em cultura e sentimentos, ainda é ignorado.
Para conhecer melhor esse homem, autodidata, nas letras e nas adversidades da vida, retirei algumas passagens do diário secreto de Humberto de Campos, que foi escrito no período de janeiro de 1915 a novembro de 1934 e do livro Irmão X, meu pai, livro esse que foi elaborado pelo seu filho caçula Humberto de Campos Filho.
"Dono de um estilo inconfundível, escrevendo um português corretíssimo e sabendo como poucos colocar uma vírgula no lugar certo, Humberto de Campos conseguia sensibilizar o leitor dos mais diferentes quadrantes culturais. Não só porque redigia de uma forma simples e fluente, como também pelo enfoque dos assuntos que explorava, quase sempre ligados, de alguma forma, com o dia-a-dia da criatura humana.Nos seus últimos dias de vida, a crônica diária que era publicada no Rio de Janeiro era reproduzida simultaneamente em jornais de São Paulo, Salvador e Porto Alegre.Também, semanalmente, lia uma crõnica ao microfone da Rádio Roquete Pinto.Por duas legislaturas seguidas foi deputado federal pelo seu estado, Maranhão.Na época que antecedeu seu falecimento, sua candidatura como senador estava sendo articulada.Também não deve ser esquecida sua atividade como acadêmico, sempre empenhado na organização do "vocabulário", queixando-se amargamente da maioria de seus pares que só estavam interessados no "chá-das-cinco" e no recebimento dos seus "jetons". No auge de sua notoriedade como jornalista, foi dono de uma revista de humor, intitulada "A maça", que alcançou enorme sucesso."
Pouco tempo antes de desencarnar deixou esse conselho a seu filho, Humberto de Campos Filho:
"Meu filho; quando chegar o dia em que tiveres de escolher uma profissão, pensa em tudo, menos em literatura.Porque no Brasil, meu filho, esses profissionais da pena são vitimas da adversidade, vítimas da sua própria abnegação.Não pretendo, com essas palavras, procurar insinuar no teu espírito aspirações outras que não sejam propriamente tuas. Falo como pai.Falo pela voz da experiência.Falo como um profissional".
Em uma das mais belas passagens do Diário Secreto, narra o escritor o seu drama pessoal na busca da fé:
'Procurei Deus no meu coração. Não o achei. Tentei ajoelhar-me. A mentira da minha fé revoltou-me a mim próprio. A música religiosa continuava a derramar-se, a diluir tudo, a envolver todas as coisas, numa atmosfera de paz, de renúncia e de doçura cristã. Olhei as pessoas que me cercavam. Todas rezavam, a cabeça baixa, a alma recolhida, o joelho no chão. Só eu não rezava! Só eu não tinha fé! Só eu não tinha Deus!...O suor gelado borbotou-me na testa. Uma agonia invadiu-me o cérebro. Uma nuvem toldou-me os olhos. Procurei sair dali, correr,fugir, fugindo daquele cenário, fugindo de mim próprio. Encontrei uma das portas laterais. Atravessei a rua. Em determinado momento, as pernas me faltaram. Encostei-me a uma porta fechada e deixei-me escorrregar para o chão. Sentei-me no batente de pedra. Mergulhei a cabeça nas mãos. Pessoas que se encaminhavam para a missa, olhavam e passavam. Não sabiam elas que se estava decidindo, alí, o destino de um Deus no coração de um homem."
De menino pobre, que trabalhou nos armazéns e nos seringais do maranhão, em 8 de maio de 1920 foi recebido como membro da academia Brasileira de Letras.Trabalhando desde menino no Armazem do seu tio,onde realizava serviço de limpeza de vazilhames, aprendeu a falar Francês fluentemente. Em 20 de julho de 1917, o escritor registra as primeiras manifestações da enfermidade que o faria mais um cliente do sofrimento. Anos sob acompanhamentos médicos e cirurgias, tendo ainda que escrever para sobrevir, vem a desencarnar no dia 5 de Dezembro de 1934 aos 48 anos de idade.
Humberto de Campos escreveu vários livros. Crónicas, contos e poesias. Conhecia como poucos sobre mitologia e contos universais, e com isso, enriquecia ainda mais sua literatura.
Em uma página do seu livro "Os Párias", deixou registrado:
"A crítica não me conhece. Os homens de letras não me lêem. As classes ilustradas ignoram a minha passagem pela Terra. Os jornais não têm o meu retrato nos seus arquivo."
Obra literária de Humberto de Campos
Crônicas
Da Seara de Booz
Mealheiro de Agripa
Os Párias
Lagartas e Libélulas
Sombras que sofrem
Destinos
Sepultando Meus Mortos
Notas de um Diarista (1ª e 2ª Série)
Reminiscência
Um sonho de Pobre
Contrastes
Últimas Crônicas
Perfís (1ª e 2ª Série)
Fatos e Feitos
Crítica Literária
Carvalhos e Roseiras
Críticas ( 1ª, 2ª, 3ª e 4ª Séries)
Memorialísticas
Memórias
Memórias Inacabadas
Fragmentos de Um Diário
Diário Secreto (1° e 2° volumes)
Contos Humorísticos
Vale de Josafá
Tonel de Diógenes
A Serpente de Bronze
Gansos do Capitólio
A Bacia de Pilatos
A Funda de Davi
Grãos de Mostarda
Pombos de Maomé
Antologia dos Humoristas Galantes
O Arco de Esopo
Alcova e Salão
Contos
O Monstro e Outros Contos
À Sombra das Tamareiras
Poesias
Poeira (1ª e 2ª Série)
Poesias Completas
Pesquisas Históricas e Literárias
O Brasil Anedótico
Antologia da Academia Brasileira de Letras
O Conceito e a Imagem na Poesia Brasileira
Contos Infantís
Histórias Maravilhosas
Livros Ditados Por Humberto de Campos como Irmão X, através da Mediunidade de Chico Xavier.
Crônicas de Além-Túmulo.
Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.
Novas Mensagens.
Boa Nova.
Reportagens de Além-Túmulo.
Lázaro Redivivo.
Luz Acima.
Pontos e Contos.
Contos e Apólogos.
Contos Desta e de Outra Vida.
Cartas e Crônicas
Estante da Vida.
Relatos da Vida.
Histórias e Anotações.
Palavras do Infinito.
Para quem ainda duvida da continuidade da vida após esta vida, analise com critério as obras de Humberto de Campos em vida e faça uma comparação com os livros Psicografados por Chico Xavier e notarão que é o mesmo estílo inconfundível do escritor maranhense.
Algumas frases de Humberto de Campos
"Quando se tem os olhos nas estrelas, as roseiras no chão em que pisamos, aumentam o número de rosas e vão, pouco a pouco diminuindo os espinhos."
"A caridade não serve unicamente para se empregar o dinheiro que sobra, mas também, os pensamentos sem dono e as horas que são demais."
"A justiça tem na mão uma espada, quando deveria ter, no lugar desta, um coração."
"Quando um sonho é grande demais, é preferível morrer com elede a deixar que ele morra sozinho."
"A felicidade é tão rara, tão difícil de se encontrar nesse mundo, que ninguém tem o direito de destruir a alheia, e ainda menos,de renunciar àquela que tem."
"A sabedoria consiste não na conservação das coisas boas que recebemos, mas em transformar em coisas boas as más coisas que o céu nos dá."
"Sinto que a minha alma se purifica no sofrimento e que meu coração, trabalhado pelas dores próprias, se preparou melhor para a compreensão das dores alheias."
"Eu quero, na minha pobreza, conservar livres para as grandes campanhas em favor dos humildes, a minha consciência, a minha voz e a minha pena."
"Sou simplesmente um homem que experimentou a vida, que provou o veneno do pecado e que esteve mergulhado nos pauis, nos quais sentiu o gosto da lama. Foi olhando os charcos que vi quanto é bela a claridade seca das estrelas."
" Abençoado sejas tu, meu Deus, que me concedeste a graça dos altos prazeres do espírito, este consolo de viver a vida do meu pensamento!
Que seria de mim, na verdade, sem essa benção do céu, ao sentir-me, no limiar da velhice, pobre, doente, feio e quase deformado e, sobretudo, sem amor e sem amigos!
Os homens, as mulheres deixaram-me nu, como um mendigo. Mas Deus, na sua misericórdia, vestiu-me de estrelas..."